I can see you, can you see me?
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Thalatta
Villa de um Lord inglês em Cannes, fim-de-semana de coisas do inferno. Não me lembro de muito, apenas de cenas filmadas a preto-e-branco por Bruce Weber, cães a correrem por todo o lado, crianças belas e pouco vestidas, um Bentley Continental dos anos 50 e um quarteto de cordas a tocar na varanda em frente ao mar cristalino. Ah, o mar! Mergulho e quase me afogo enquanto na praia um bailarino caribenho de Pina Bausch faz poses de Vogue ao lado de Lady Violet McAvoy, de fato de banho vintage branco e copo de champagne na mão. Ela parece flutuar no sol de Agosto e ele parece uma criatura descarnada vinda de algures no cosmos. Deitados na plataforma de madeira presa ao largo da praia, a fumar, eu e os meus companheiros de ocasião parecemos um anúncio da Abercrombie & Fitch. Muita bebida, muita droga, duas modelos eslovenas que parecem ter doze anos, cobertas por absolutamente nada. Uma delas canta algo como um lalalalalalalalalala infindável, numa voz que mal se ouve. São anjos, evidentemente, diz Paolo. Francesca ri com gosto e olha para lado nenhum. São tão bonitas. Suspiro. Na praia, um mordomo vestido de negro serve sanduíches de salmão e pepino e mais champagne. A plataforma ondula suavemente ao sabor das poucas ondas que o Mediterrâneo consegue produzir. Mas são tão bonitas, diz Francesca, corpo voluptuoso banhado pelo sol. Pergunto-lhe se quer casar comigo. Naturalmente, responde ela, sem um pingo de ironia. Volto a mergulhar no mar que é tão bonito e nado até à praia. Os calções de banho Ferré que uso são maravilhosos e eu detesto-os. Ao subir a escada até à Villa no topo da colina, olho a água, dispo os calções e atiro-os ao abismo. Faço a minha entrada triunfal no Salão Napoleão, quero uma reacção de alguém ou de alguma coisa, mas o quarteto de cordas tem os olhos vendados. Visto-me de branco, o mordomo de pedra abre-me a porta e salto para dentro do Bentley Continental. Mais tarde, ao conduzir o mastodonte descapotável pela estrada à beira-mar, fumando um Dunhill, os óculos Prada a separarem-me do mundo, só me consigo lembrar daquela canção dos Pet Shop Boys, This Must Be The Place I Waited Years To Leave. Ah, o mar!
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